MEMORIAL
Seminário  e Aula de Campo Interdisciplinar Letras/História/ Ciências Biológicas/Geografia
Olhares cruzados hoje/ontem  a partir da ótica de Avé-Lallemant :relatos viagem Colônia Dona Francisca



Augusto Luciano Ginjo
Elaine  Junqueira
Letícia Krema
Lutrícia Monti
Tayanara Nardes

Nos meses de julho e agosto de 2016, lemos o diário de viagem de Avé-Lallement,, disciplina Literatura Brasileira III, sobre o gênero diário e  conceitos de cultura. Avé-Lallemant foi um escritor viajante e esteve na província de Santa Catarina no século XIX. Durante as aulas, construímos olhares sobre o texto e o modo com que o escritor registrava impressões sobre a cultura dos locais visitados. Percebemos, também, a importância dos relatos pessoais e a multiplicidade de observações que podemos criar diante dele. Nós, alunas do curso de Letras do 4º ano, apresentamos um seminário explorando o gênero diário de viagem e as referências literárias que o diário nos trouxe.
Por meio das orientações da professora Taiza e do mestrando do Programa de Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade, Augusto, tivemos a oportunidade de compartilhar nossas impressões e perceber o que o Avé-Lallement produziu durante sua viagem nas terras de Santa Catarina. Durante as aulas do mestrando, foram introduzidos vários conceitos da palavra “Cultura”, que carrega consigo uma vasta diversidade de significados, e, diante desses significados foram associados conceitos de sociedade, nos possibilitou ter uma melhor compreensão da visão de mundo do escritor, intercalando com a noção do gênero diário de viagem. E com o auxílio de historiadora e mestranda em Patrimônio Cultural e Sociedade Joice, pudemos entender mais o aspecto histórico da época e ter outra visão das nossas experiências com o texto lido.
O escritor viajante nos fez perceber um olhar, marcado por estereótipos e vivencias pessoais. Sua linguagem também revela traços do mundo natural e humano. Assim, o estudo da cultura e suas definições nos fez perceber as suas manifestações escritas daquela época.
O diário de viagem de Avé-Lallement, possibilitou, portanto, a construção de múltiplos olhares a respeito de seus escritos, olhares esses que foram apresentados e discutidos no seminário interdisciplinar, apresentado no dia 10 de agosto, acrescentando aos conhecimentos já debatidos em sala de aula a respeito do diário. Foi possível conhecer a fauna e flora descrita em seus relatos, apresentados pelos alunos de biologia, os fatos históricos e o contexto da época em que foi escrito, trazidos pelos alunos de história e o percurso, trajetória feita por ele, através dos estudos do professor de geografia.
Este seminário possibilitou interdisciplinaridade e olhares que até então não havíamos percebido. Foi de grande valia estudar os detalhes do diário e ouvir as leituras de acadêmicos de História, Ciências Biológicas e de um professor de Geografia   provocam revisão de olhares sobre Joinville.
Nós, ao explorarmos o Diário de viagem, atentamos ao gênero em si, sua estrutura e características. Avé-Lallement, em seu diário registra de modo diferente do diário pessoal, que marca pelos registros do íntimo e secreto e valoriza a fonte histórica. Este tipo de documento era fundamental no século XIX, visto que os diários dos viajantes se tornavam documentos históricos, percepções e visões a respeito dos lugares visitados e sobre a comunidade que ali habitava.
Durante a leitura, pudemos estudar outros aspectos presentes na cultura do séc. XIX, entre eles a divisão do trabalho, as dificuldades que os nossos colonizadores viveram com salários baixos e situações caóticas de sobrevivência, sem contar no preconceito de raças que era bem presente no cotidiano dos povos aqui localizados, por conta da miscigenação.
Também levantamos questões de intertextualidade contidas no diário, como o Calibã, que é uma personagem, de William Shakespeare, em A Tempestade. É considerado um escravo selvagem, deformado e tratado com desdém, tornando-se alvo de chacota por parte dos outros. Diante dessas características Avé-Lallement traça uma comparação preconceituosa com os povos Belgas, levando em consideração apenas esse olhar selvagem, desconsiderando a força do mito de Calibã na poética de Shakespeare.
 Avé-Lallement faz referência a À la Paul et Virginiem, uma obra de Saint Pierre, que foi publicada em 1788. Obra traduzida, desde então, para diversos idiomas. E traz um pouco sobre o amor adolescente, o primeiro amor, inocente e trágico. Descrevendo os grandes sentimentos de amor e nostalgia do paraíso perdido e um gosto pela solidão. Ao se colocar em seu diário ele consegue fazer essa relação com a obra, frisando principalmente nesse amor inocente e ingênuo.
Outra citação feita pelo autor, é com relação a mitologia, trazendo o deus IKAROMENIPPUS, porém a sua inserção no texto sobre o assunto deixa vago a compreensão, não fazendo referência a história real da mitologia com o assunto abordado em seu diário. Perpassando uma ideia de que Avé-Lallemant era um típico iluminista, que traz a literatura, os nomes renomados, mas não os conhece profundamente. Fazendo – ilustrações – “eu cito, mas não leio”.
Este seminário viabilizou a interdisciplinaridade e olhares que até então não havíamos percebido. Foi de grande valia estudar os detalhes do diário e ouvir várias versões, o que fez com que, em alguns momentos, mudássemos até mesmo de opinião em certos fatos e olharmos Joinville com outros olhos.
No dia 19/09, realizamos uma Aula de Campo onde retomamos alguns caminhos referenciados no diário do autor. Passamos por algumas propriedades localizadas na Estrada Bonita – Rio Bonito, Rio da Prata e Quiri, todas na região rural de Joinville – SC.
A primeira propriedade visitada foi a do Sr. Ango Kersten onde pudemos aprender um pouco sobre a fabricação artesanal do melado, o cultivo da cana de açúcar, a criação de alguns animais, o contato com a natureza. Em um relato da trajetória de sua família, que está há algumas gerações no local, o Sr. Ango nos falou também sobre as condições de trabalho na época de Colônia. Assim foi possível relacionar com o relato apresentado por Avé-Lallemant acerca da colônia Dona Francisca.


                           Figura 1 – Grupo de estudantes e professores na aula de campo
                                      Fonte: Augusto Luciano Ginjo – acervo particular


                    Figura 2 – Sr. Ango Kersten conversando com o grupo
                                     Fonte: Augusto Luciano Ginjo – acervo particular

A propriedade do Sr. Ango é reconhecida pelos produtos coloniais fabricados no local, em especial o melado. Tivemos uma explicação bem detalhada de todo o processo de fabricação desse produto. Além do mais, muitos membros da família Kersten trabalham na propriedade onde a renda para a sobrevivência de todos é proveniente da venda dos produtos coloniais ali produzidos além das visitas recebidas diariamente.


                   Figura 5 – Panela utilizada para a produção do melado
                               Fonte: Augusto Luciano Ginjo – acervo particular

Visitamos o Vale das Nascentes, localizado na Estrada Quiriri, em contato com a Mata Atlântica, a guia que conduziu o grupo nos falou sobre a beleza das paisagens daquele espaço, como dizia Avé-Lallemant, e também disse como no diário, sobre os encantos das aves que habitam por ali, como diz no diário “Ao descambar o sol é particularmente forte a gritaria da araponga, que se cala imediatamente depois do sol posto! Por isso ela é um profeta do tempo, Quando a araponga na orla a floresta pode-se contar com bom tempo, mas quando grita o uru nas brenhas da serra, vem chuva”.


                    Figura 3 – bebedouro d’água de uma nascente
Fonte: Augusto Luciano Ginjo – acervo particular

                    Figura 04 – pessoas do grupo alimentado peixes
Fonte: Augusto Luciano Ginjo – acervo particular

A última propriedade visitada foi a localizada na Estrada Rio da Prata, localizada antes da subida da Serra Dona Francisca. O Apiário Pfau também é um local pertencente a uma mesma família há algumas gerações. Fomos recebidos pela Sra. Ilse a qual nos deu uma verdadeira aula sobre o mundo das abelhas. Pudemos aprender sobre a organização delas, a importância para o meio ambiente e qual é o trabalho do apicultor.
            Recebemos uma explicação muito apaixonada da Sra. Ilse, demonstrando o seu papel como educadora ambiental.

                          Figura 6 – Sra. Ilse explicando sobre o trabalho com as Abelhas
Fonte: Augusto Luciano Ginjo – acervo particular


A experiência de poder visualizar o texto lido e aprender na prática as vivências, os enfrentamentos e as dificuldades dos nossos colonizadores, foi enriquecedora, pois a partir desse contato com a história do nosso povo, pudemos construir novos visões culturais reavaliando mitos identitários. O olhar interdisciplinar nos proporcionou uma desmistificação de conceitos, uma aprendizagem pela experiência.

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